Todos os caminhos levam ao Mosteiro
- Day Abdalla
- 27 de abr. de 2019
- 3 min de leitura
No caminho entre algo que eu devia fazer e algo que eu queria fazer, só via o Mosteiro.
Cheguei ao Centro por um caminho novo, que não sabia muito bem onde era e para qual lado deveria ir para chegar na 25 de março. Tenso demais para tirar o celular e ficar bobeando no Google Maps, segui meu instinto e sai bem em cima.
Olhei a primeira loja que talvez tivesse o que eu buscava e o tempo já mudou bruscamente. Uma melancolia quase gótica tomou conta da Multidão, o frevo e o fervor do consumo foi esmaecendo junto com as nuvens, e os tons de amarelo opaco foram compondo a cena, deixando claro que havia um baita Sol atrás de toda aquela névoa acinzentada que agora ganha um brilho amarelo.
Há quem ache esse exato momento pura melancolia, eu fico emocionada. Como pode uma coisa tão linda? Um céu aberto e ensolarado é lindo sim, mas é comum, é solar demais e quase te obriga a ser feliz. O céu nublado demais, tristeza.
Agora, essa mistura envolvente é liberdade, o que você tem dentro de você floresce sem culpa, você pode sim ser tomado por uma melancolia que o drama da cena impõe ou você se apegar aos tons de clima solar. É quase como um Ying Yang. É a combinação perfeita, e me faz feliz.
Eu feliz no meio de uma multidão que mais do que imediatamente se fechou junto com o tempo.
Não resolvi na primeira loja que entrei e por algum motivo parece que eu tinha que ir para a frente do Mosteiro, não sei se foi um norte geográfico, mas alguma coisa já me puxava naquela direção. Fiquei no meu papel de rabiscos que mapeava meu destino, mas me certifiquei de que não fosse longe demais do Largo São Bento, sem saber bem o porquê.
Consegui em algumas horas e exatas duas quadras resolver tudo de um jeito muito simples. Quem dera se toda ida à vinte e cinco fosse assim. Terminei direto na ladeira alternativa que dá bem em cima do Mosteiro, que segundo minha cabeça era só para evitar a muvuca.
Àquela altura eu já sabia que não ia rolar fotografar onde eu queria, mais uma vez o peso da câmera na mochila foi à toa.
-Cansaço, vamos para casa então. Se correr dá para voltar com a mesma passagem, o rolê que eu gosto.
O sino da igreja tocou, a luz sombria reluzia ainda mais amarela bem em cima do mosteiro e para completar o drama: gaivotas voando ao redor! Puta que pariu que coisa linda.
-Tá, acho que nada disso foi à toa né. Preciso guardar esse sentimento.
Tento tirar foto de um lado, do outro. Não tá legal, foda-se, é daqueles momentos que a gente só sente e vive né, não sai em foto.
Veio o estalo, a ideia: Vou ver a Missa.
-Que? Não, de onde tirou isso? Vou para casa, estou cansada, tem coisa para fazer...
-Que horas já são moça?
Uma senhora me pega no pulo e pergunta. Eu respondo.
-Ah, tá na hora da missa. Eu estava lá, mas não vou ver não, já vi.....
É, eu ia assistir à Missa, bem ali, do nada.
Eu ainda andei um pouco adiante, vi que não ia rolar meu outro programa. No meio do vai e vem, eu vi essa cena. O mosteiro. De todos os lugares se via o Mosteiro hoje.

Comi alguma coisa e fui.
Eu não pratico nenhuma religião, eu pratico a minha fé.
Meu bisavô sempre dizia que a religião dele é Deus e a Igreja dele é a fé. Para mim é a maior verdade e eu sempre carreguei isso comigo. Mas por algum motivo, hoje também foi dia de fazer isso. E foi um daqueles momentos que te mudam e te revigoram com tanta força que as vezes a gente fica sem entender.
Eu sei que não foi um dia tão aleatório assim, o que eu fui fazer era significativo e é uma porta para milhões de outros sentimentos e por mais que fosse feliz, me remete à algumas dores.
São Paulo tem essa capacidade de às vezes acompanhar o nosso estado de espírito, e dar mais dramaticidade para isso. O tempo nublando ensaiando uma chuva, o clima escuro, os tons amarelados e as gaivotas pelo céu. Tudo levava ao Mosteiro hoje.
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